Assim que soou o sino do intervalo, Tales abriu
a mochila, pegou a lancheira saiu correndo para o pátio da escola, olhando
desconfiado para todos os lados. Não queria correr risco de encontrar Leonardo,
o valentão da escola que sempre lhe roubava o lanche. Caminhou com a lancheira
bem escondida entre os braços, procurando algum canto quieto ou sossegado para
saborear o bolo com cobertura de calda de chocolate com coco ralado que a mamãe
mandou. Só de pensar, ficou com água na boca.Foi se esquivando de bando de garotos e garotas
que corriam com gritos estridentes pelo pátio, até sair de toda aquela
algazarra e ir para trás de prédio de aulas, no canto da quadra de esportes que
estava vazia. O lugar era perfeito.O garoto abriu a lancheira com olhos cobiçosos.
Quando estava prestes a pegar o bolo, ouviu um chiado, que vinha do outro lado
da quadra, num canto ainda mais escondido.Tales tremeu ao reconhecer quem estava ali. Era
Leonardo. Fechou rapidamente a lancheira e começou a dar cuidadosos passos para
trás, temendo que o valentão notasse sua presença e roubasse seu bolo.Mas Tales parou. Por que Leonardo estaria
chorando?Ele é o fortão da escola. Bate, rouba e coloca apelidos em todo mundo.
Por um breve momento, Tales sentiu certo prazer em ver o valentão chorando, mas
não foi assim que seus pais o ensinaram a agir.Sem saber por que, Tales começou a caminhar em
direção a Leonardo que, ao perceber sua presença ,levantou o rosto amassado e
vermelho e esbravejou:-Saia daqui, Luneta Vareta!-este era o apelido
que ele havia colocado em Tales, pois era magro e usava óculos.-Quer lanchar comigo?-perguntou o garoto com a
voz trêmula.-Se eu quiser seu lanche, eu o pego inteiro –
Leonardo falou e afundou a cabeça entre os braços.Tales sentou-se ao lado dele. Dividiu o bolo e
esticou um braço para Leonardo, que olho desconfiado.-Por que você está aqui? – perguntou o
valentão, pegando o bolo.-Você parece triste. Está precisando de alguma
coisa?Leonardo estranhou, pois nunca tinha sido
tratado desse jeito. Sempre foi estúpido com todos os
alunos,batendo,ameaçando,roubando,apelidando. Poderia alguém se preocupar com
ele? Nem seus pais cuidavam dele direito, ninguém queria ficar perto dele e, por
isso, estava tão triste.Uma lagrima rolou de seu rosto quando mordeu o
bolo e disse com a boca cheia:-Acho que preciso de um amigo.-Eu posso ser, se você parar de me bater e
perseguir. E tenho certeza que outros alunos também vão querer se aproximar se
você mudar de atitude.Tales se levantou e estendeu a mão.
Leonardo limpou a boca com a manga da camisa. Tinha uma grande jornada
pela frente,para aprender a tratar bem as pessoas,mas,naquele momento,apenas
esticou a mão e foi levantado pelo primeiro grande amigo que teria para o resto
da vida.
By: Giuliana